So, Europe was more than they expected. And they didn't have words for Spain. Marc always knew it, but Estella and Hani had never dreamt of a place like that. They would've done anything for the trip to be perfect.
As reality surprises them once again, Estella and Hani will thank the existence of their attractive friend Marc forever, because even though being a bit scandalous, he will be the door for their dreams to come true.

Thursday, September 8, 2011

IV - Estella

Marc realmente não conseguia calar a boca. Já era terça-feira, e o jogo fora sábado. O Sergio isso, o Sergio aquilo. Quando será que ele ia ligar? Ele era tão sexy. O sorriso dele era maravilhoso. Com certeza os dois iam ficar, pelo menos ele tinha certeza, já que continuava afirmando a cada cinco minutos. E nenhuma das duas agüentava mais escutá-lo.
Ele só perguntava do celular e se tinha tocado. Se trancava no banheiro por horas. Não que isso não fosse normal, mas passava ainda mais tempo do que o usual se embelezando porque, segundo ele, estava ‘aproveitando enquanto ele não ligava para ficar mais incrível’. Como se ele precisasse.
Marc sempre foi muito bonito. Tanto Estella quanto Hani se sentiram atraídas por ele antes de conhecê-lo. Não demorou muito para perceberem que era gay, porém ele tinha seus momentos de homem perto delas. Esses momentos faziam com que Estella amaldiçoasse quem quer que fosse responsável por determinar a orientação sexual das pessoas.
No entanto, para as duas garotas ele sempre seria aquele tipo de homem maravilhoso que era o amigo, e que nunca, nunca, mas nunca mesmo passaria disso. Nem mesmo quando ele saísse do banho só com a toalha enrolada, quase caindo, e com o peito todo molhado, a água escorrendo do cabelo.
- Hani...
- Não, o Serg...- Hani parou no meio da frase. Estella queria muito rir da expressão na cara da amiga e do modo como o rosto dela corara enquanto ela desviava os olhos e continuava a falar - Sergio não ligou, Marc.
- Hum – o amigo voltou para o banheiro batendo a porta atrás de si. Parecia que estava obcecado mesmo.
Está bem, Sergio Ramos realmente era um dos homens mais... Sergio Ramos do mundo. Não tinha melhor definição para um homem, um homem espanhol e caliente, do que simplesmente Sergio Ramos. Mas todos sabiam disso depois de vê-lo. Marc não precisava explicar.
Hani já estava tão irritada com o amigo que desenvolveu a habilidade de usar fones de ouvido no volume máximo. A noite anterior tinha piorado a situação entre eles. Ele andava realmente insuportável. Mas os três se conheciam há anos; Estella sabia que Marc só estava afetado daquele modo porque se tratava daquele homem.
- Na verdade, eu nunca tinha reparado nele antes. Mas agora eu não sei como isso foi possível...
- Marc, é óbvio que você não sabia quem ele era. Você não conhece nenhum jogador de futebol. Você não sabe nada sobre futebol. Durante a copa do mundo você se referia ao Piqué como ‘o alto com a blusa enfiada no calção’ e depois como ‘o alto bem-dotado’.
- Mas ele é bem-dotado! – Marc riu, colocando a língua pra fora.
- Marc. Eu aposto que você não sabe o nome de nenhum jogador da Espanha. E você assistiu a todos os jogos comigo.
- Eu sei sim, tá! – Ele fez uma cara  feia – Mas eu não vou falar.
- Ah, então você não sabe! – Hani disse, levantando as sobrancelhas.
- Sei, mas porque eu deveria falar? Só para provar para vocês? Eu não preciso provar nada para ninguém, ok!
- Você sabe que quando as pessoas falam isso é porque... bom, você sabe.
O moreno fez uma cara de desdém após as palavras de Estella e coçou o nariz sardento. Isso era uma mania que tinha quando estava irritado, ela conhecia aquele sinal muito bem.
- Até agora você não sabe o nome de nenhum jogador da Alemanha.
- Ah, Hani, você só está falando isso por causa da sua quedinha por aquele moreno que não é alemão de verdade...
- SIM, ELE É, MARC! O MAIS PERTO DE TURCO QUE ELE TEM É O BISAVÔ DELE! Eu já te disse isso mil vezes! – Aquela era a gota d’água quando o assunto era irritar Hani. Falar sobre Mesut Özil? Marc devia estar louco, Estella nem mesmo brincava com isso.
Hani colocou os fones de ouvido, bufando. Aquele fora provavelmente o maior espaço de tempo que ela agüentou falar com ele. O moreno se virou para a outra com uma mistura de surpresa e horror no rosto, pegando a base com fator solar jogada na cama para se embelezar no banheiro. Ele fazia questão de ressaltar essa parte. Como se realmente a usasse somente pelo protetor.
- Qual é, M? Você sabe que você não deve cometer uma gafe em relação ao Özil.
- Ah, tá, mas eu esqueci! – Obviamente aquilo era uma mentira. Marc era uma daquelas pessoas incapazes de admitir um erro. Realmente não parecia que o fizera por mal, embora gostasse de provocar as amigas. E num dia normal Hani não teria ficado brava de verdade com aquilo. Estella acreditava que Marc simplesmente não notara o quanto estava irritante, principalmente após a noitada, que foi a verdadeira causa da explosão de Hani em proporções anormais.
Por mais que quisesse muito que Sergio ligasse, o mais rápido possível, para que Marc calasse a boca e satisfizesse logo suas fantasias, Estella não conseguia imaginar o que aconteceria se ele realmente o fizesse. O ataque que teria. Ou melhor, o que Hani faria, já que o número de telefone que Sergio tinha anotado em um cartão era o dela. Se lembrava muito bem da reação da amiga quando soube disso.
- Você o quê? Você O QUÊ? PASSOU MEU TELEFONE PARA A PORRA DO SERGIO RAMOS?!
- Querida, você é a única com telefone aqui! Quer dizer, chamadas internacionais são absurdas! Nós concordamos que nós três usaríamos o se-
- É, porque só eu lembrei da licença internacional! Mas NÃO PARA VOCÊ DESTRIBUÍ-LO PARA UM JOGADOR DE FUTEBOL QUE DEU EM CIMA DE VOCÊ! – Até quem conhecia Hani teria medo daqueles olhos possessos.
- Ai, invejosa! – Marc soltou uma risada afetada, que mais tarde se tornaria comum naqueles dias. Hani então arregalou os olhos ainda mais, virou a cabeça e parecia à beira de um ataque. Mas ao invés disso teve uma reação muito ‘Estella’ e se virou para estender a camisa assinada pelo Xabi na cama.
Xabi. Ele era incrível. Não foi nenhuma decepção conhecê-lo, como poderia ter sido. Ele realmente era tudo aquilo. Era bonito, o sorriso de lado dele conseguia ser ainda mais bonito pessoalmente. Na verdade, ele era muito melhor do que o esperado. Ele era extremamente simpático. Estella não acreditava que ele tivesse ficado tanto tempo conversando com elas, e ainda por cima tivesse assinado tudo, e lhes dado sua própria camisa. Quando ele a tirou revelando seu torso... aquele peitoral... A camisa permaneceu aqueles dias dentro da bolsa que Hani levara ao jogo. Estella nem falou nada sobre isso porque não queria admitir que tinha medo de não ter camisa nenhuma e ter sido tudo um sonho.
E ele as havia convidado para um treino! Por mais que tentasse não pensar nisso, já que tudo era provavelmente uma grande ilusão, quanto mais se concentrava em não ter esperanças, mais elas se solidificavam. Já bastava o jeito ridículo como tinha agido na frente dele. Falando como louca. Como se fosse uma fã pirada. Ou pior, uma desesperada.
Nos últimos dias tentara, em vão, focar todas as suas atenções somente aos planejamentos de visitas aos locais turísticos de Madrid e de Barcelona. Barcelona! Ela não conseguia colocar na cabeça o fato de que já estava na Espanha, já havia assistido a um jogo no estádio Santiago Bernabéu e conhecido Xabi Alonso. Xabier Alonso. A grande probabilidade é que só estivesse lá para entretê-las enquanto Sergio se jogava para Marc. Mas quem ligava?
Madrid era linda. Estella tinha certeza de sua eficácia como planejadora da viagem, e sabia que, mesmo com a tensão entre Marc e Hani aumentando a cada palavra, ambos estavam aproveitando muito os lugares que visitaram assim como ela.
Antes mesmo do jogo já haviam estado em alguns dos lugares mais famosos e prestigiados de Madrid. O hostal em que se hospedaram se localizava no centro, por isso estavam muito próximos de Puerta Del Sol, o marco zero da cidade. Lá se localizava a Real Casa de Correos, que tinha uma torre com um relógio para o qual os madrileños olhavam na noite de ano novo, comendo uvas a cada uma das doze badaladas.
- Ai, adoro! Vamos comer uvas aqui no ano novo também, né? – o amigo perguntara à Estella quando ela contou o que lera a respeito do relógio.
- Marc, nós vamos para Barcelona logo depois do natal. Você escolheu as datas. Lembra?
Depois disso haviam passado pela Gran Vía, a rua mais famosa de toda Madrid, onde Estella fez compras de presentes para seus pais, assim como Hani. Também visitaram a Chocolateria San Ginés, conhecida por seu chocolate con churros. Era realmente um lugar delicioso, com um balcão de mármore, as paredes de madeira verdes cheias de espelhos e um relógio antigo pendurado. O adotaram como seu ponto de todos os dias, para o café da manhã, lanche ou cena na madrugada.
Depois do inacreditável jogo do Real Madrid, Estella se lembrara de que tinham de fazer a excursão no estádio. Como se Hani não fosse lembrá-la, de qualquer jeito. Mas como a amiga só usava aqueles malditos fones e Marc não ligava muito pra nada que não começasse com ‘Ser’ e acabasse com ‘gio’, ela decidira visitar os locais mais históricos primeiro.
Domingo tomaram um trem até a Estación Atocha, que por si só já era uma obra de arte, com vários jardins de inverno dentro. Não tiveram de andar muito até o Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, que era composto basicamente por arte contemporânea e moderna. O quadro Guernica ao vivo. Dalí e Miró. Uma livraria imensa especializada em arte do século XX. Estava ali uma coisa com que os três se relacionavam, a arte. Estella se lembrava de que até achara que o amigo estava falando um pouco menos.
De lá foram para o Real Jardín Botánico de Madrid, que custou somente dois euros cada um e tinha plantas de cinco continentes, principalmente da América do Sul e das Filipinas. Se lembrava das palavras de Marc a cada planta que passavam.
- Ai, que luxo! Ai, detestei! Aquela ali é bonita! Hum, será que uma planta dessa daqui é muito cara? Pensei em levar uma pro meu quarto!
- Marc, essa planta está em extinção – Estella respondera.
- Essa não foi a minha pergunta.
Segunda haviam ido a pé para o lado mais ocidental da cidade, conferindo a Plaza Isabell II e o Teatro Real. A parte para qual Estella estava mais ansiosa era a Plaza de Oriente, após tudo que tinha lido e fotos que vira. Lá passaram grande parte da tarde, andando entre todos os jardins que compunham o Palacio Real e observando todas as estátuas de reis espanhóis medievais. Felipe IV montado em seu cavalo bem no centro. O Campo Del Moro era gigantesco comparado aos Jardines de Cabo Noval e os Jardines de Sabatini. Passaram nos Jardines Lepanto no caminho da volta, quando o sol já estava baixando.
Na caminhada ao hotel, Estella, entediada com a falta de conversas do dia, resolvera compartilhar um assunto com Marc que não envolvia aquele jogador de futebol e comentou que um bairro central, conhecido como Chueca, era definido como uma área muito... simpatizante.
- CO-MO-A-SSIM? Tem um bairro gay, que é o nosso bairro, e eu não estava sabendo disso POR-QUÊ? – Marc teve um ataque, e Hani mudava as músicas em seu I-pod. Estella já havia entendido o que aconteceria.
- Marc, você não qu-
- Nós vamos sair! Hoje! – O rapaz interrompeu Estella numa explosão de animação. Ela se virou para Hani, que ainda escutava o aparelho.
- Você sabe que isso vai ser ruim agora, você não prefere esperar até as coisas entre vocês melhor-
- Ai, para, você só acaba com a minha felicidade! Nós vamos e pronto! – Estella fora interrompida novamente. Tecnicamente, não havia problema nenhum em sair para a maldita da balada gay, o problema é que Marc sempre escolhia lugares ou de gosto duvidável ou de preço exorbitante. Hani provavelmente não ficaria feliz com nenhuma das duas opções.
Chegando ao hotel, Marc pegou um bolo de dinheiro e saiu em busca de uma Lan House. A maioria dos hotéis tinha Wi-fi, mas o hotel que escolheram era realmente simplório. No quarto não havia nenhum tipo de decoração, somente as três camas e duas mesas de cabeceira, uma entre as camas de Estella e Hani e outra ao lado da cama de Marc. O chão era de carpete, discreto, as paredes brancas, assim como todo o quarto e o banheiro. Havia uma grande janela acima das camas das duas meninas e um pequeno armário para guardarem as malas.
Enquanto Marc estava fora, Hani aproveitara para tirar os fones de ouvido. Estella mal ouvira uma palavra vinda dela desde que voltaram do jogo. As duas se sentaram na cama, uma de frente para a outra, se olharam por alguns segundos, e finalmente Hani soltou um longo suspiro.
- Meu, eu estou realmente cansada... Ele não para de falar do Sergio. Você acha mesmo que ele vai ligar? – Estella vestiu sua cara sarcástica. Que tipo de pergunta fora aquela?
- Sério? Você sabe! É claro que não. Eu também estou um pouco irritada, mas eu estou com dó dele. Se o Sergio não ligar, o que é bem provável, eu não sei o que ele é capaz de fazer. Do jeito que ele é dramático...
Alguns minutos depois, Marc voltou com uma escolha definitiva de onde passariam a noite. A balada se chamava Rick’s, e ele prometeu que não era muito cara e ‘nem sequer tinha apresentações de drag queens’. Hani concordou porque acreditava que Marc ficaria bem ocupado por lá e ela ficaria livre dele.
Estella não se lembrava de muita coisa da noite regada a copas de todos tipos – gin e tônica, whisky e coca, rum e limão, vodka e laranja –, e provavelmente Hani também não. Porém, o que se lembravam muito bem era que o ambiente parecia saído do filme Casablanca, o chão era feito de mármore, as colunas eram douradas e a conta que tiveram que pagar na saída era absurdamente cara.
- Acho que eu me enganei, Hani, o mais barato era outro... Ah, mas com todo esse dinheiro, por que me importar?
- PORQUE NÓS NÃO SOMOS RICAS E TAMBÉM TIVEMOS QUE PAGAR! – Hani não havia falado nem mais uma palavra para Marc até a hora de dormir.
Naquele dia, o plano de Estella fora seguir para os dois outros museus mais importantes, o Museo Del Prado e o Museo Thyssen-Bornemisza, mas logo percebera que, naquela situação, Hani estava até disposta a concordar com Marc. Nenhum dos dois estava animado para andar tanto e ficar em pé o dia todo como no dia anterior. Os dois já haviam tido a briga envolvendo Özil alguns minutos atrás. Então teve uma idéia.
- Nossa isso é realmente uma grande pena... porque eu tinha pensado em ir fazer uma excursão  em um certo estádio que tem por aqui... mas já que é longe, um grande caminho, e a gente provavelmente ficaria o dia inteiro lá, vocês não devem querer ir... estão muito cansados, não é?
Estella teve uma imensa vontade interna de rir do modo como a expressão de ambos mudou de um instante para o outro. Então lá se foram  os três percorrer livremente o interior do Santiago Bernabeu.
Foram até a estação Sol, ao lado do hotel, e tomaram o sentido Villaverde Alto até a estação Plaza de España. De lá mudaram para a linha Puerta del Sur Tres Olivos, para chegar à estação Santiago Bernabeu. Marc sabia que aquele era um lugar sagrado e se comportou, fazendo com que a excursão do dia dissipasse um pouco a irritação da amiga.

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